A Região Norte Sustentável: Comércio como Chave para o Futuro Verde do Brasil
Por Coronel Fabiano Bó – Colunista do Portal Manaus na Pauta
O mundo vive um momento de transição. A economia global passa por transformações profundas, marcadas pela digitalização, descarbonização e reestruturação das cadeias produtivas. Nesse cenário, o Brasil precisa deixar de olhar a Região Norte apenas como um patrimônio ambiental e reconhecê-la como o que de fato é: um ativo estratégico para o futuro verde do país.
A Região Norte, com sua riqueza natural e localização geográfica privilegiada, reúne todas as condições para liderar um novo modelo de desenvolvimento — baseado na sustentabilidade, na inovação e no comércio inteligente. O caminho para isso passa pela valorização de setores econômicos capazes de gerar emprego, arrecadação e oportunidades sem abrir mão da responsabilidade ambiental. E é nesse ponto que o comércio se destaca como protagonista.
Muito além do extrativismo ou da exploração desordenada, o comércio é uma engrenagem que move a economia de forma estruturada. No Amazonas, esse movimento é evidente. A Zona Franca de Manaus segue sendo uma das maiores vitrines do Brasil em termos de produção limpa e industrialização sustentável. Em 2023, mais de 20% das exportações do estado vieram de segmentos industrializados, como eletrônicos e motocicletas, que abastecem mercados em diversas partes do mundo.
Esses resultados mostram que é possível conciliar floresta em pé com competitividade. Mas o desafio vai além da produção. É preciso estratégia. O avanço da presença comercial de países como os Estados Unidos na América Latina mostra que há uma nova corrida por influência econômica. O Brasil precisa estar preparado, e a Região Norte deve ser colocada no centro das decisões de política industrial, comercial e ambiental.
O desempenho recente do setor comercial reforça essa tese. Só em 2024, o comércio em Manaus gerou 7.460 novos postos de trabalho formais, segundo levantamento da Fecomércio-AM com base no Novo Caged. Em todo o estado, o setor já é o maior empregador, com 380 mil vínculos celetistas. Isso representa renda e inclusão para milhares de famílias, especialmente nas periferias urbanas e nos municípios do interior.
No campo fiscal, os números são ainda mais expressivos: comércio, serviços e turismo foram responsáveis por 57,5% de toda a arrecadação de ICMS no Amazonas em 2024 — um total de R$ 8,92 bilhões, conforme balanço da Secretaria da Fazenda. São esses recursos que sustentam as políticas públicas nas áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura.
Se queremos um Brasil mais equilibrado e sustentável, precisamos reverter a lógica que trata a Região Norte como território tutelado. A verdadeira sustentabilidade passa pelo fortalecimento da economia regional, com segurança jurídica, investimentos logísticos, incentivos à inovação e respeito à biodiversidade. O comércio é o elo que torna isso possível, ao conectar produtores locais aos mercados globais sem abrir mão da preservação ambiental.
Não se trata de escolher entre proteger a floresta ou desenvolver a região. O verdadeiro debate é como usar o potencial da Região Norte para liderar um novo ciclo de desenvolvimento verde no Brasil. E a resposta está no fortalecimento de atividades que geram valor com responsabilidade — como o comércio, a bioeconomia e o turismo sustentável.
A pergunta que precisa ser feita é: o Brasil está preparado para assumir esse novo protagonismo com a Região Norte no centro? O Amazonas tem o histórico e a estrutura para liderar. Mas é preciso visão estratégica e coragem institucional para fazer diferente.
O futuro verde do Brasil começa onde sempre deveria ter começado: na Região Norte. E o comércio é a chave que pode abrir esse novo capítulo de soberania produtiva, inclusão social e responsabilidade ambiental.
Sobre o autor: Coronel Fabiano Bó é especialista em Política e Estratégia (ADESG), secretário de Estado Chefe da Casa Militar do Amazonas e colunista do portal Manaus na Pauta.