MC Poze deixa prisão em Bangu sob aplausos de multidão; decisão judicial cita abuso de prisão
Artista foi liberado após decisão do TJ-RJ que classificou a prisão como excessiva; fãs comemoraram com trio elétrico e cartazes em frente à penitenciária
O cantor Marlon Brandon Coelho Couto, conhecido como MC Poze do Rodo, foi libertado na tarde desta terça-feira (3), do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A saída do funkeiro transformou-se em um verdadeiro evento, com trio elétrico, aglomeração de fãs e clima de festa.
Poze foi recebido por familiares, amigos e centenas de admiradores que aguardavam desde cedo nas proximidades da penitenciária. Ao deixar o local, ele surgiu no teto solar de um veículo ao lado da companheira, Vivi Noronha, saudando o público e acenando com a camisa nas mãos. Estiveram presentes também outros artistas do cenário musical como MC Cabelinho, Borges, Chefin e Oruam.
Pouco antes da liberação, um tumulto entre policiais e o público presente resultou em empurrões e o uso de gás de pimenta e balas de borracha por parte dos militares. O cantor Oruam chegou a subir sobre ônibus durante o alvoroço, sendo ovacionado por fãs.
MC Poze estava preso desde a última quinta-feira (29), acusado de apologia ao crime e associação criminosa. Segundo a investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), os shows do cantor ocorriam majoritariamente em áreas dominadas pelo Comando Vermelho, com a presença de traficantes armados. A Polícia Civil também apontou que suas músicas faziam apologia ao tráfico, ao uso de armas e incentivavam rivalidades entre facções.
No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), por meio do desembargador Peterson Barroso Simão, concedeu habeas corpus ao artista. O magistrado argumentou que a prisão temporária era “excessiva” e que as provas reunidas eram suficientes para a continuidade das investigações sem a manutenção da detenção. A decisão também destacou que não foram encontrados entorpecentes, armamentos ou materiais ilícitos em posse do cantor.
O juiz ainda ponderou que a prisão do funkeiro gerou “ampla exposição midiática” e classificou a medida como desproporcional. Ele defendeu que os alvos prioritários da Justiça devem ser os chefes do tráfico, e não artistas.
Apesar da soltura, MC Poze deverá cumprir medidas cautelares, como comparecimento mensal à Justiça, restrição de saída do estado, entrega de passaporte e proibição de contato com investigados ou pessoas ligadas à facção.
Vivi Noronha na mira da Polícia
Enquanto Poze deixava a prisão, a Polícia Civil cumpria mandados de busca e apreensão na casa onde ele vive com Vivi Noronha, no Recreio dos Bandeirantes. A operação tem como foco a investigação de lavagem de dinheiro atribuída à influenciadora, apontada como beneficiária de recursos provenientes do tráfico.
De acordo com a DRE, a empresa de Vivi e contas bancárias ligadas a ela teriam recebido valores através de laranjas, com o objetivo de ocultar a origem ilícita do dinheiro. Os investigadores afirmam que ela seria uma figura simbólica na estrutura criminosa, atuando como elo entre o crime organizado e o universo digital, conferindo aparência de legalidade a recursos da facção e ampliando a chamada “narcocultura” nas redes sociais.
As investigações apontam que mais de R$ 250 milhões podem ter sido movimentados pelo Comando Vermelho em esquemas de lavagem de dinheiro, com parte dos valores circulando por canais ligados ao casal.
A defesa de Poze alega perseguição e abuso por parte das autoridades. O caso segue sendo investigado.