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O avesso do esplendor: desafios do desenvolvimento amazônico

Apesar de sua abundância natural, a Amazônia segue aprisionada em um modelo de desenvolvimento que exclui seus próprios habitantes

Por Fabiano Bó

A Amazônia representa um dos maiores patrimônios naturais da humanidade. Sua biodiversidade inigualável e os recursos minerais abundantes a posicionam como um território estratégico não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio ecológico do planeta. Contudo, persiste um dilema: como é possível que tamanha riqueza conviva com desigualdades tão profundas?

A ideia de sustentabilidade, em sua essência, propõe que o ser humano atenda às suas necessidades sem comprometer as gerações futuras. “No entanto, em grande parte da Amazônia, especialmente no Amazonas, essa equação entre desenvolvimento econômico e bem-estar social parece estar em constante descompasso.”

Com dimensões continentais, o Amazonas compartilha com o Pará não apenas a vasta geografia, mas também a complexidade social. Povos ribeirinhos e comunidades indígenas, por exemplo, enfrentam enormes barreiras para usufruir dos recursos que os cercam. “Em mais de trinta anos de serviço na Polícia Militar e na gestão pública estadual, especialmente na Casa Militar, pude testemunhar a realidade de comunidades isoladas, como em Boca do Acre, a mais de 1.500 km de Manaus, onde as condições de vida muitas vezes parecem imutáveis.”

O contraste entre capital e interior é expressivo. Enquanto Manaus apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,737, Atalaia do Norte registra 0,450. Essa assimetria revela não apenas uma disparidade econômica, mas também o reflexo de um modelo de desenvolvimento que negligencia grande parte da população.

A história da região é marcada por ciclos de exploração, como o da borracha, que deixou profundas cicatrizes. “O ciclo da borracha, que, segundo Euclides da Cunha, revelou a exploração extrema do homem amazônico.” Hoje, observa-se que práticas extrativistas persistem sob outras formas. A preservação ambiental, embora essencial, é muitas vezes imposta sem oferecer alternativas reais de geração de renda — o que acaba por manter muitos grupos em condição de exclusão socioeconômica.

Atualmente, o Polo Industrial de Manaus (PIM), sob a coordenação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), configura-se como o principal motor da economia estadual, tendo registrado faturamento de R$ 204,39 bilhões em 2024. No entanto, seu modelo enfrenta crescente ameaça. “A criação da Zona Franca do Distrito Federal, que concede incentivos fiscais a outros estados, é mais um sinal de que a competitividade de Manaus está em risco, colocando em xeque o futuro econômico do Amazonas.”

Enquanto isso, no Pará, a exploração mineral — especialmente de manganês e bauxita — contribui significativamente para o crescimento do estado, com faturamento de R$ 97,5 bilhões em 2024. No Amazonas, mesmo com a descoberta de jazidas de potássio, sua exploração segue travada por entraves legais e burocráticos. Tal paralisação impede o estado de acessar fontes de receita capazes de transformar sua realidade socioeconômica.

Diante disso, é urgente que haja convergência entre ciência, política e os poderes constituídos. A preservação da floresta é inegociável, mas ela deve vir acompanhada de soluções concretas que promovam justiça social e econômica. “A preservação ambiental é necessária, mas ela deve ser feita de forma inteligente, levando em consideração as necessidades das gerações atuais e futuras, e garantindo que a riqueza da região seja, de fato, um fator de inclusão e desenvolvimento para todos.”

Conclui-se que o futuro da Amazônia não pode ser restrito à contemplação de sua beleza ou à manutenção de sua biodiversidade. É imperativo que seus habitantes participem dos frutos desse território. “O homem da Amazônia merece um futuro em que a riqueza da terra não seja apenas um patrimônio distante, mas sim a base para uma vida digna e próspera.”

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